sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Relato de parto - Parte 4: Gravidez e pré-natal

Como contei na parte 2 do meu relato, eu descobri a gravidez com 1 mês, em novembro de 2013, e após procurar muito decidi que faria o pré-natal com o médico que aceitava fazer parto pelo plano de saúde.
Mas, no final de dezembro eu resolvi fazer o acolhimento (reunião que acontece todas quartas e apresenta a casa e o trabalho que ela realiza) na Casa Ângela. Eu já tinha lido, já tinha conversado com Lídia sobre o modelo da Nova Zelândia que dá essa opção às mulheres (e já tinha visto também no filme O Renascimento do Parto e na série Parto pelo Mundo na GNT) e fiquei bem entusiasmada com essa possibilidade. Era a opção perfeita para não parir em hospital.
Antes de ir no acolhimento, apesar de toda informação, eu tinha um pré-conceito imenso. Como parir em um lugar sem médico? Após o acolhimento, me senti mais segura, mas não o suficiente para decidir parir lá. Todas as pessoas com as quais eu comentava diziam que era loucura... eu comecei a não falar mais nisso e segui a vida com o meu obstetra fofo que me dizia que eu estava caminhando para um parto normal lindo.
Depois de um tempo, conversando com Priscila, uma amiga que também estava grávida e também sonhava com um parto normal, comecei a falar do sistema para ela, que até então achava que seria tranquilo parir. Ela começou a pesquisar também sobre o assunto e me trazia informações novas. No meio de uma conversa falei sobre a Casa Ângela e ela resolveu ir lá conhecer. Após fazer o acolhimento ela decidiu ter filho lá. Nessa mesma época eu estava descobrindo as coisas (que relatei na parte 2) sobre meu obstetra e estava me sentindo super insegura e sem saber o que fazer.
A decisão firme de Priscila, me deu uma força imensa, e eu decidi também. Meu filho nasceria na casa Ângela. E a partir daí me senti em paz.
Continuei o pré-natal com o obstetra pois eram necessários os exames e com o pedido médico eu os fazia pelo plano de saúde. A cada consulta com ele eu tinha certeza que tinha tomado a decisão certa. 
Infelizmente, esse não é o tipo de decisão que dá para compartilhar com todos. Só de saberem que eu queria o parto normal, já ouvia tanta coisa bizarra, resolvi guardar para mim e meu esposo, e foi a melhor coisa que fizemos.
Após decidir, fizemos os cursos preparatórios que a Casa Ângela oferece, e a cada curso me sentia mais emponderada, informada e feliz.
Num desses cursos, conheci pessoalmente uma amiga do Facebook, chamada Viviane, que também iria parir lá. E fazíamos os cursos as 3 juntas, e a nossa turma de cursos era ótima, e as experiências de um casal dava força ao outro.
E a minha gravidez foi assim... tranquila, saudável, feliz... e me trouxe amizades preciosas. Com exames ótimos, gravidez de baixo risco e apta a parir na casa de parto.
É importante esclarecer aqui que para parir numa casa de parto a gestação DEVE ser de baixo risco, e os critérios são bem rígidos. Não é tão simples parir lá. Não é na louca, na irresponsabilidade. É um local sério, com um trabalho sério, feito por profissionais sérias.
Quem me conhece sabe que de irresponsável eu não tenho nada, e era isso que mais me irritava nos comentários bizarros que eu tinha que ouvir. As pessoas falam para uma grávida, coisas que não deveriam falar nem para uma não grávida.
O pré-natal na Casa Ângela era muito melhor e muito mais produtivo do que as consultas com o obstetra. 
Mantive o pré-natal com o obstetra também, para caso não pudesse parir na Casa Ângela, ter ele como um plano B.
Viviane pariu quando eu estava com 6 meses. Foi maravilhoso e extremamente fortalecedor ver alguém que trilhou o caminho que eu estava trilhando, e conseguiu chegar ao destino tão esperado: um parto natural, humano, respeitoso, na Casa Ângela.
Dois meses depois, foi Priscila, chegou lá parindo e teve um parto lindo na banheira, com bebê empelicado.
Ver as experiências positivas de pessoas tão próximas me dava uma paz... e foi assim que esperei a minha hora, em paz! Confiando nas profissionais que aprendi a admirar ao longo dos meses, confiando em Deus e no meu corpo.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Relato de parto - Parte 3: A cesárea e o sistema

Quem escolhe ter filho por parto normal ouve coisas demais. As pessoas resolvem passar os noves meses te aterrorizando. Ainda que você se sinta segura, que você esteja bem informada, você ouve absurdos. E por isso eu gostaria de falar sobre alguns pontos antes de continuar o meu relato.

Cesárea

Algumas pessoas não entendem que existe uma grande diferença entre defender o parto normal como melhor forma de chegar ao mundo (tanto para mãe quanto para o bebê), e odiar a cesárea.
Então eu preciso dizer com todas as letras: eu não odeio a cesárea. Eu acho ela um avanço incrível da medicina. Uma cirurgia maravilhosa que salva muitas vidas quando indicada adequadamente.
Mas, eu odeio o sistema cesarista que existe no Brasil. Detesto o fato dos médicos e das mulheres acreditarem que quem faz o parto é o médico. 
Eu ouvi várias vezes coisas do tipo: "Eu escolhi minha cesárea, e não me arrependo.". Mas, isso de escolher cesárea não existe. Se você que diz ter escolhido a cesárea pedir para ver o prontuário da sua cirurgia, descobrirá que o seu médico jamais escreveria nele que fez a cesárea por que você escolheu. E sabe por que? Por que isso é ilegal, isso não existe. Ninguém saudável escolhe fazer uma cirurgia. Ninguém chega num consultório e diz ao médico que acordou com vontade de tirar o apêndice por que ele pode vir a dar problema algum dia. Um médico só tira seu apêndice se for necessário. E nessa linha de raciocínio eu sempre me questionei do motivo que leva uma mulher saudável, com pré-natal tranquilo e gravidez de baixo risco (importante esclarecer que não existe gravidez sem risco) a pedir por uma cirurgia.
Ainda pensando na cirurgia, eu sempre fiquei viajando no fato dos médicos indicarem cesárea para quem tem pressão alta ou diabetes. Eu acompanhei o último ano de vida do meu avô, e ele tinha esses dois problemas, e tinha também catarata. Para conseguir operar da catarata demorou uns meses, e ainda assim tivemos que assinar um termo de afirmando que estávamos cientes dos riscos de se fazer uma cirurgia nestas condições. Como que pressão alta e diabetes são motivos para cesárea? Sempre achei isso super estranho e hoje sei que são dois motivos usados levianamente por médicos "desinformados"(?) para induzir suas pacientes.
Não existe escolha se você não tem consciência do que está pedindo ou aceitando, e na maioria esmagadora dos casos é assim.
Você pode até ter pesquisado muito, ter descoberto que a cesárea sem indicação tem 4 vezes mais risco de morte materna e 10 vezes mais risco de morte neonatal, e que essa história de que é muito mais seguro que o parto normal é conversa para boi dormir, mas ainda assim ter optado pela cesárea.Teoricamente, esse é um direito seu e um problema seu também, e nem eu, nem ninguém tem nada a ver com isso (levando em consideração que o bebê não tem escolha).
Mas, aí eu me pergunto: onde está a ética do seu obstetra? E mais... será que mesmo sabendo de todos os riscos, você optou pela cesárea porque estava a fim, ou foi por medo da violência obstétrica? Será que marcar uma cesárea por medo da dor do parto é mesmo uma escolha?
E quando você pediu a cesárea seu médico te esclareceu dos riscos envolvidos, como fazem em todas as cirurgias? Ou será que ele fez cara de fofinho e aceitou numa boa?
Existem pesquisas que mostram que no Brasil a maioria das mulheres no inicio da gravidez preferem o parto normal, mas durante o decorrer do pré-natal isso muda. 
Eu conheço muitas mulheres (muitas mesmo!) que queriam o parto normal, mas acabaram na cesárea. Você já parou para se questionar sobre isso? Eu já... e é por essas mulheres que eu resolvi escrever. 
Para quem se informou e escolheu a cesárea, o Brasil é o paraíso. Mas, acredite, a maioria das mulheres "escolhe" a cesárea por falta de informação ou por medo. E uma outra grande parte delas não escolhe, é levada a acreditar que é incapaz de parir, e por isso aceitam a cesárea.
E aquelas que se informam, enfrentam um martírio para conseguir parir. Por isso existe um ativismo cada vez mais forte aqui no Brasil. Ter um filho de forma natural não pode ser tão difícil e tão cansativo como é hoje.
Mas, por favor entenda: eu não odeio a cesárea, não acho que quem escolhe de forma consciente a cesárea é menos mãe, nem quem foi enganada e teve seu parto roubado. Isso de menos mãe não existe, a forma que o seu filho nasceu não determina a mãe que você será para ele.

Parto normal x vaginal

Infelizmente no Brasil existe um terror em volta do parto. Crescemos ouvindo falar de violências que as mulheres sofrem nos hospitais quando tem parto normal (violência obstétrica). Coisas do tipo: 
"Você vai sentir a pior dor da sua vida.". A pior dor da minha vida foi quando tive pedra no rim. E dor também é relativo e muito pessoal. Existe uma grande diferença em dor e sofrimento.
"Sua vagina vai ficar frouxa.". Não vou entrar em detalhes pessoais sobre esse assunto, mas não, minha vagina não ficou frouxa. 
Eu só fico abismada em ver pessoas esclarecidas falando esse tipo de asneira, e se preocupando se os maridos machistas iriam gostar da sua nova vagina. Sinceramente, se o seu casamento é baseado apenas nisso, eu acho que vocês precisam conversar.
"Vão te fazer um corte.". Esse corte se chama Episiotomia, e infelizmente é feito como rotina aqui no Brasil, mas isso está mudando. Já existe comprovação cientifica de que esse corte não ajuda em nada o parto, e que uma laceração natural, por maior que seja, é menos agressiva que ele.
"A cesárea é mais segura. Antigamente morria muita gente no parto.". Logicamente, em um parto normal que muitas vezes acontecia de forma precária, sem nenhum exame e nenhum acompanhamento pré-natal, as chances de existir uma complicação não prevista é muito grande. O que matava as pessoas era a falta do acompanhamento, dos exames que temos hoje, e ainda assim, se o parto fosse tãooo perigoso como dizem acho que não teríamos chegado até aqui né? A humanidade evoluiu por milhares de anos nascendo por via vaginal.
Se durante o pré-natal for diagnosticado algum motivo real de cesárea, ela será bem vinda, caso contrário, a vida vai seguir seu rumo, e o bebê vai nascer.

O sistema atual

É muito triste constatar que infelizmente o sistema obstétrico é assim: não existe indicação real de cesárea, mas ou você aceita a imposição da cesárea acreditando que escolheu por ela ou que ela foi de fato necessária, ou você tem um parto VAGINAL cheio de intervenções.
O parto conhecido aqui no Brasil como normal, não é normal, é apenas um parto vaginal, no qual a mulher sofre violências de vários tipos... episiotomia, ofensas verbais, ocitocina sintética desnecessária (usada apenas para acelerar a dilatação), e por aí vai...
Se você conversar com alguém que teve um parto vaginal, e não foi feliz, vai perceber que o problema não foi o parto, mas a violência sofrida.
Quem pariu de forma digna, respeitosa e tranquila, jamais fala mal do parto.
Na minha opinião a violência mais comum e que a maioria nem sabe que é violência, é o uso indiscriminado de ocitocina sintética. O famoso sorinho. Existe uma distância absurda entre dilatar naturalmente, com tranquilidade, no ritmo do seu corpo e do seu bebê, e dilatar de uma hora para a outra com ocitocina na veia, abrindo o colo do seu útero a jato... isso realmente deve doer... e isso é o que mais acontece nos hospitais aqui no Brasil. Geralmente a dor absurda que as mulheres dizem sentir vem desse procedimento.

O movimento da humanização

Existe no Brasil um movimento em prol da humanização que tem ganhado cada vez mais força. Isso é maravilhoso e extremamente necessário.
Quando alguém morre num parto é feito todo um alarde, mas existem milhares de mães e bebês morrendo em consequência de cesáreas desnecessárias e ninguém fica sabendo.
Graças ao ativismo de pessoas que dedicam a vida a esse assunto o quadro no Brasil está melhorando. 
Ainda estamos longe do ideal, mas todo destino tem um caminho a ser percorrido né? 

Parto com médico obstetra

Eu percebo que aqui em São Paulo e também em Salvador os médicos obstetras não estão mais aceitando fazer parto pelo plano de saúde. Pela cesárea eles cobram um valor alto... pelo parto normal o valor é ainda maior, pois existe a disponibilidade...
Os obstetras que fazem parto humanizado também não aceitam plano de saúde. 
No geral os obstetras (humanizados ou não) alegam que o plano paga valores absurdos para o tamanho da responsabilidade e pelo tempo despendido também. Concordo.
Mas, eu tenho a sensação que estamos fugindo de um sistema onde a cesárea impera (pela praticidade que o médico tem de agendar e manter o consultório funcionando), criando outro sistema onde só pode parir de forma humanizada com um médico obstetra quem tem dinheiro. Isso me incomoda. Isso não é humanização, é tirar proveito de uma oportunidade de mercado, uma vez que muitas mulheres estão se conscientizando de que um parto natural é melhor.
Há quem defenda os médicos humanizados, alegando que eles estudaram anos, que eles gastam com especializações, etc e tal... mas também temos que lembrar que muitos deles estudaram em faculdades públicas muito boas mantidas com os nossos impostos, que eles fizeram um juramento, e que eles quando escolheram a especialidade obstétrica sabiam que teriam que ter essa tal disponibilidade pela qual hoje resolveram cobrar... Eu não acho coerente, e nem mesmo ético, se denominar humanizado, e cobrar valores que poucos brasileiros tem condições de pagar. 
Quem no Brasil ganha 8 mil por mês? Poucos, pouquissímos! 
O que está acontecendo é que o parto humanizado, infelizmente, está sendo elitizado, e na minha opinião esse não é o melhor caminho. 
É necessário que outros profissionais sejam inseridos no contexto do parto. Enfermeiras obstetras e obstetrizes, e isso já vem acontecendo! Dessa forma o valor do parto é reduzido e mais próximo da nossa realidade.

Casas de parto

Eu sei que infelizmente não são todas cidades que possuem uma casa de parto, mas se você tiver a oportunidade de ter filho em uma, de forma humanizada e com respeito, eu considero a melhor opção.
Se a sua gravidez é de baixo risco, e seu pré-natal foi tranquilo, você consegue parir. Quem pare é a mulher, o médico, enfermeira, seja lá quem for, assiste (dá assistência).
Existem países onde as mulheres tem a opção de escolher onde se sente mais segura para ter bebê. Essa é a recomendação da OMS. 
É o caso da Nova Zelândia, onde a mulher pode escolher entre hospital, casa de parto ou sua própria casa. O médico só é acionado quando necessário, e o custo do parto é reduzido. Eu sonho em ver esse modelo aqui no Brasil.
Um primeiro passo foi dado com o Programa Rede Cegonha, mas ainda há muito a ser feito.
Enquanto isso, nós mulheres temos que nos informar, e lutar pelos nosso direitos.

sábado, 27 de setembro de 2014

Relato de parto - Parte 2: A gravidez e a busca por um obstetra

Após muita pesquisa, muita leitura e muita reflexão, resolvi começar a tentar engravidar. Como a grande maioria das pessoas que eu via tentando sempre demorava um tempo, eu imaginei que era legal começar por que deveriam se passar alguns meses antes que de fato acontecesse. 
Eu tinha fé que aconteceria quando Deus achasse que eu estava pronta. Para a minha surpresa, eu estava pronta na primeira tentativa, em outubro de 2013... hahaha, mês do meu aniversário, recebi o presente da minha vida.
Desse episódio eu tirei a primeira grande lição sobre maternidade: a ansiedade não ajuda em nada. Acho que eu estava tão pronta para esperar que acontecesse, que simplesmente aconteceu.

Em novembro, após o atraso da menstruação eu prometi a mim mesma que iria esperar uma semana para fazer o exame de farmácia. Até por que a ansiedade pode causar atrasos... era só o primeiro mês... com certeza era alarme falso...
Não sei explicar bem a sensação de quando vi o positivo, fiz o primeiro teste DOIS dias depois do atraso e apareceu uma segunda linha supeeeer clarinha... para mim ainda não tinha caído a ficha... eu precisava ver uma segunda linha bem forte, e então fiz outro teste dois dias depois (os níveis de HCG no sangue de uma grávida praticamente dobram a cada dois dias), ainda não contente fiz outro teste mais dois dias depois, e só então a linha forte apareceu... mas entre esse momento, e a ficha cair demora um bom tempo...

A partir daí era um misto de emoções: uma felicidade imensa, um medo de acontecer de novo o que aconteceu na outra gravidez, e o parto... agora mais do que nunca eu tinha que correr contra o tempo. Me munir de informação e de poder. Me EMPONDERAR! Gravem essa palavra mágica: EMPONDERAMENTO.

Em uma consulta de rotina, um pouco antes de engravidar com o meu ginecologista (que também é obstetra) sem grandes surpresas descobri que ele era cesarista. (CONTADOR = 1).
A obstetra que eu me consultei na primeira gravidez, também me deu alguns indícios de ser cesarista. (CONTADOR = 2)
Uma amiga grávida estava indo em um médica que indicaram a ela e que estava disposta a fazer o parto normal que ela desejava, então marquei uma consulta cheia de esperança e para a minha surpresa quando perguntei do parto ela em respondeu: "Sabe, eu prefiro cesárea.", pelo menos ela foi sincera comigo né? (CONTADOR = 3
A consulta com essa médica foi como uma reunião de negócios: "Não faço parto pelo plano, e só faço nos hospitais X e Y, então se seu plano não cobrir, você não vai poder ter o bebê comigo.". "Eu cobro R$4.500,00 pelo parto, e ainda tem o valor da equipe.", e por aí vai... Mal sabia ela que depois da primeira frase, nada do que ela me dissesse interessava, eu só queria os pedidos de exames e ir embora correndo dali.
Eu saí desse consultório percebendo que tudo que eu tinha lido, de fato era verdade, uma verdade bem difícil de encarar, e que eu ia ter que me fortalecer muito mais do que eu pensava. Me empoderar!
Lembrei de uma ligação que fiz para a Casa Moara para pedir indicação de obstetra que fosse a favor do parto normal e que atendesse pelo meu plano (quando fiz essa ligação foi para a minha amiga, eu ainda não estava grávida) e a pessoa que me atendeu, muito gentil e com uma voz muito doce, me deu uma notícia que só consegui digerir saindo dessa consulta, quando o meu contador já estava no 3: "Querida, parto normal com obstetra de plano de saúde você não vai achar. E se achar vai ser pagando um valor alto. Além disso, será um parto apressado, corrido e provavelmente cheio de intervenções. O que as mulheres aqui em São Paulo, que não tem condições de pagar uma equipe humanizada (este assunto eu irei abordar em outra postagem), tem feito é ficar em casa com uma Doula durante o trabalho de parto e só ir para o hospital com dilatação avançada. Assim elas conseguem parir com o plantonista, que já está lá mesmo... e não tem motivos para apressar o parto."
Quando ela me disse isso, achei meio exagero... afinal de contas, entre milhões de obstetras no plano de saúde, não é possível que nenhum filho de deus faça parto normal pelo plano né?
A Casa Moara realiza vários encontros gratuitos (sempre quis ir em vários, mas acabei não indo em nenhum) e tem muitos textos super esclarecedores e relatos lindos de parto no site deles. Apesar de nunca ter ido lá, fui muito ajudada por esse telefonema, e pelo site deles também. Foi um dos primeiros sites que li.

Bom, diante da constatação de que a moça do telefonema não estava exagerando tanto assim, fui para a internet pesquisar obstetra pelo plano que fosse a favor e realizasse parto normal. Tarefa difícil... muita pesquisa e nada... já estava ficando desesperada. E no auge do desespero uma outra amiga grávida, que desde o começo decidiu pela cesárea, me falando do médico dela, me disse que a pessoa que indicou o médico também sempre quis a cesárea e o médico tentou convencê-la pelo parto normal. Pensei: "Nossa, uma luz no fim do túnel!". E o melhor de tudo, ele faz tudo pelo plano! Marquei correndo uma consulta com o obstetra dela, e ele virou o meu obstetra!
Pronto! Agora eu tinha um obstetra para chamar de meu! Podia ficar tranquila e ir cuidar do enxoval. Só que não!
Esse obstetra tinha um grande problema (que para mim sinceramente não era tão grande assim): Para ser paciente dele, você tem que ser realmente PACIENTE, no sentido literal da palavra. O consultório dele vive lotado. Ele sai no meio do dia para fazer parto, e todo mundo fica lá esperando, e nisso os horários vão encavalando... mas para mim isso não era um problema, mas um fator tranquilizador, pois se ele sai para fazer parto a qualquer hora, isso significa que quando chegasse a minha vez ele iria também né? Eu esperava feliz da vida... levava meu celular... tirava uma soneca... já ia preparada para esperar... eu entendia perfeitamente que não era só eu que estava em uma busca desesperada por um médico que fizesse parto pelo plano, e principalmente que fosse a favor do parto normal. Então eu estava feliz da vida... nada me incomodava.
Mas... Eu tinha consulta todo mês, com ultrasson todo mês (gravem essa informação!). 
E nessas longas esperas, eu comecei a perceber que todas mulheres que já tinham tido filhos com ele há algum tempo e todas que retornavam para consulta pós-parto tinham passado por cesáreas. Isso começou a me incomodar... como pode um médico ser a favor do parto normal, e na sala de espera lotada, todos os meses, eu nunca encontrar uma alma que tenha parido com ele? E a pulguinha começou a coçar de novo atrás da minha orelha. Nessa mesma época uma amiga que eu indiquei ele, me disse que o marido dela jogou o nome do médico no Google e viu um post dizendo que ele é conhecido no São Luiz (hospital no qual eu desejava ter o meu bebê) como "ligeirinho". Pronto! Acabou a minha paz... ela nem durou tanto tempo... e aí eu comecei a pesquisar sobre o médico e descobri que ele não era tão a favor do parto normal como dizia ser. Ele é o famoso GO (ginecologista obstetra) fofinho. Fala tudo o que você quer ouvir... até o momento que você já não tem ânimo para procurar outro e aí ele mostra de fato como ele trabalha... foi assim que aconteceu comigo... assim acontece todos os dias, com amigas nossas, com milhares de brasileiras que tem o seu sonhado parto roubado delas.
Mas, ele não contava com a minha astúcia... ele continuou sendo meu obstetra, no pior dos casos eu ia para o hospital e ligava para ele. Comigo, por enquanto, ele ainda não tinha feito nem falado nada... ele ainda era fofo... toda consulta me perguntava o nome do meu filho, qual o tipo de parto que eu gostaria de ter e em qual hospital... e no final dizia: ah... você com certeza conseguirá um parto normal. Seu pré-natal está ótimo, e você tem quadril largo (como se isso fizesse alguma diferença...). 
Porém desde que descobri que ele era o "ligeirinho", eu fiquei ligeira também, e descobri várias coisas sobre ele, seguem algumas descobertas:

  • "Ligeirinho": por que de fato ele fazia alguns partos normais, quando a mulher já chegava parindo... ou se não chegasse parindo ele colocava ela na ocitocina sintética e fazia uma episiotomia. Aí o parto acontecia rapidinho... a mulher desinformada, tinha o parto "normal" dela, e ele voltava o mais rápido possível para o consultório.
  • Descobri o relato de uma mulher que pariu discutindo com ele, por que não aceitou a anestesia que ele queria aplicar, e não deixou ele levar ela para a cesárea. Ela fez ele esperar ela dilatar de 9 para 10 cm. Que absurdo né? Ela passou mais ou menos uma hora discutindo com ele, e por sorte teve apoio do anestesista do hospital, por que o anestesista da equipe dele não pôde aparecer nesse dia.
  • Uma outra moça me disse que numa consulta ele chegou esbaforido e super irritado. Tinha acabado de fazer um parto de uma estrangeira que não aceitou a anestesia e ficou lá gritando... Ou seja, com ele parto normal você tem que ficar calada... senão ele se irrita... ele te dá uma anestesia, te corta, arranca seu filho e tá tudo resolvido... 
  • Descobri relatos de mulheres enganadas por ele que tiveram cesáreas desnecessárias, quando sempre disseram a ele que desejavam um parto normal, e em todas as consultas (assim como fazia comigo) ele dizia que elas teriam sim o parto que desejavam. Até mesmo na sala de espera encontrei várias delas, todas se sentindo salvas por ele, quando na verdade tiveram seus partos roubados, na mais pura e inocente ignorância. A cada história do tipo "eu queria muito normal, mas teve que ser cesárea por que... " e aí vinha um motivo escabroso daqueles que só existem aqui no Brasil, eu pensava... Deus me ajude... abra meus olhos e ilumine meu coração, por que eu creio, eu tenho fé que comigo não será assim.
E nessa brincadeira... CONTADOR = 4
Cheguei à conclusão que estava na hora de jogar a toalha nessa busca e procurar outro caminho... desse mato não ia sair coelho e eu só tinha a essa altura uns 4 meses.

Deixo aqui alguns links que me ajudaram muito a entender a realidade obstétrica do nosso país e procurar uma saída:

  • O Renascimento do Parto - O Filme: Eu já vinha lendo várias coisas, e parece que a minha busca coincidiu com um momento de luta por mudança urgente da nossa realidade. Eu assisti esse filme duas vezes no cinema. Uma antes de estar grávida e outra dias depois de ter feito o teste de farmácia. Esse filme veio para me mostrar que eu estava no caminho certo, e para me dar forças para prosseguir nesse caminho. Na página do Facebook eles divulgam informações valiosas e relatos lindos de partos. Esse filme foi tão importante para mim em todo meu processo de emponderamento que eu comprei ele, e dei de presente a algumas amigas. Quem quiser emprestado pode me pedir! E agora será produzido o segundo filme que falará sobre violência obstétrica. 
  • Lídia: Lídia era uma colega da faculdade com quem não tive muito contato (uma pena isso). Ela mora na Nova Zelândia e tem um blog. Esse post me fez perceber como as coisas são fora do Brasil e o melhor de tudo é que é contado por alguém que eu conheço né? Depois disso Lídia virou uma espécie de doula virtual com quem eu tirava VÁRIAS dúvidas, e ela com toda paciência sempre me ajudou e tranquilizou. Obrigada! Hoje ela é uma amiga que a maternidade me trouxe. Aliás esse é um presente maravilhoso da maternidade ativa, ela te dá um filho e várias amigas.
  • Dentre vários blogs e sites que li nas minhas buscas por informação e emponderamento tem dois que tem postagens muito esclarecedoras e com embasamento em evidências científicas (para mim é fundamental) e não apenas em achismos. São eles: ESTUDA, MELANIA, ESTUDA! e Cientista Que Virou Mãe. O primeiro eu comi com farinha... devorei esse blog. Melania é médica-obstetra, formada pela UFPB, com residência em Ginecologia e Obstetrícia pelo IMIP, mestrado em saúde materno-infantil (ênfase em saúde coletiva) pelo IMIP, doutorado e pós-doutorado em Tocoginecologia pela Unicamp e pós-doutorado em Saúde Reprodutiva pela Organização Mundial de Saúde. Sou fã dela demais! Quando vi ela no Renascimento do Parto achei o máximo! A postagem de Melania que eu não canso de ler para ter certeza de todos os mitos que foram criados como motivos para cesárea aqui no Brasil é esse Indicações reais e fictícias de cesariana. A cientista que virou mãe se chama Lígia, ela é Bióloga, mestre em psicobiologia, doutora em farmacologia, área que deixou após se tornar mãe, e hoje faz um novo doutorado, agora em Saúde Coletiva. É pesquisadora da assistência ao parto no Brasil, da violência obstétrica e da medicalização da infância e do corpo feminino. Curto demais o blog de Lígia por que ela vai além do parto, ela fala de maternidade em vários aspectos.
  • Grupo fechado do Facebook Cesárea? Não, obrigada!: Nesse grupo as moderadoras são profissionais sérias, elas são ativistas do parto no Brasil. Nesse grupo eu tirei dúvidas e descobri coisas que me fortaleceram demais durante minha jornada. Se você não tem certeza ainda se quer parir, não entre nesse grupo. Ele é para quem sabe o que quer. Se você é a favor da cesárea eletiva e acha que tanto faz a forma de nascer, passe longe, não perca seu tempo nem gaste o das moderadoras. Mas se você quer de fato parir e que encontrar pessoas com esse mesmo desejo, esse é o grupo! Nele você vai receber informações de forma clara e objetiva. Não espere conversa fiada... nem melosidades... nele o papo é reto... e as opiniões são fortes.
  • E para finalizar seguem algumas páginas do Facebook que também me ajudaram a entender muita coisa de forma real, lendo relatos e trocando experiências:
Eu sei que é muita informação... mas todos links aqui são preciosos. 
No próximo post continuo compartilhando com vocês a minha jornada.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Relato de parto - Parte 1: Como tudo começou...

Após três anos sem escrever num blog que deveria ser quase que diário, percebo quanta coisa mudou...
A vida realmente é sinônimo dessa palavra: mudança. A vida é feita do inesperado. Por mais que a gente tente planejar, por mais que a gente defina como as coisas serão a vida toma contornos que nem sempre são os esperados.
A bíblia diz que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, e eu O amo, muito.
Eu tenho consciência que a vida não será só mar de rosas, e que os momentos complicados servem para nos fazer amadurecer e valorizar as vitórias que Deus nos dá.

Uma mudança maravilhosa que nos aconteceu no dia 02/07/2014 foi o nascimento do nosso filho: Miguel. Na verdade essa foi a mudança mais maravilhosa, a melhor de todas que aconteceu na minha vida.
No final de 2012 eu engravidei sem planejar, fomos pegos de surpresa. Depois do susto, a alegria e o medo de tudo que isso traria. Após, algumas semanas eu sofri um aborto espontâneo e uma tristeza imensa me abateu. Um filho, mesmo que não planejado, é uma benção, uma alegria, uma renovação da vida, e o fato de ter perdido aquele bebê, que eu aprendi tão rápido a amar, me deixou um vazio que eu nem sabia que existia. As pessoas me perguntavam como estava a gravidez e isso só aumentava a dor. Após todos terem sido avisados que não existia mais gravidez, começaram as perguntas sobre quando eu iria tentar de novo. As pessoas não entendem, e não vale a pena explicar nada numa situação dessas. Eu preferia simplesmente dizer que não estava tentando e que não sabia quando iria tentar. Até por que essa era a mais pura verdade. Esse assunto sempre me incomodou, eu sempre tive muito medo de gravidez, de parto, de ser responsável por alguém indefeso. Sempre tive muito medo de tudo isso.
A perda desse bebê me mostrou que dentro de mim existia um espaço imenso para a Marcela Mãe, que eu não sabia que existia. A dor que essa perda me causou foi maior que qualquer medo que senti a vida inteira. E então eu resolvi me preparar para quando o momento chegasse. Me preparar psicologicamente. Me apegar com Deus para que Ele me guiasse, me mostrasse o caminho.

Você pode estar se perguntando: mas por que tanto medo?
Eu sempre tive medo de gravidez. A minha avó paterna sempre falava que tinha tido 8 filhos, mas apenas 6 "vingaram". O mais velho morreu quando ainda bebê e o irmão gêmeo do meu pai morreu no parto. Isso me impressionava quando criança. É engraçado isso por que todos meus primos ouviam as mesmas coisas, mas eu sempre fui a mais impressionada. Não sei explicar, mas isso me causava um incomodo tremendo.
Quando eu tinha 6 anos minha mãe engravidou do meu irmão Marcel, eu era louca para ter um irmão. Achava muito chato ser filha única. Ele nasceu, lindo. Mas, com 17 dias de vida faleceu. Eu acho que aquilo foi um pouco demais para minha mente de criança. Eu achava injusto, a pessoa passar 9 meses grávida, esperando tanto um bebê e ele morrer assim tão cedo. Eu achava injusto com ele também.
Tempo depois, a esposa do meu tio saiu de casa para dar a luz ao meu primo e nunca mais voltou. Minha prima ficou sem mãe, e meu primo já nasceu órfão. Hoje entendo os motivos que levaram isso a acontecer e posso afirmar que informação é TUDO!
Todas essas coisas me marcaram demais. Eu sempre fui uma criança muito questionadora, muito exata... não conseguia conceber essas coisas, na minha cabecinha era simplesmente injusto, e se aconteceu com elas, eu preferia não me arriscar. E cresci assim, o meu pensamento era esse.
Eu pensava até mesmo em não ter filhos biológicos, em adotar. Não por não desejá-los, mas por medo. Esse medo existia dentro de mim de uma forma profunda, que talvez nem eu soubesse, e que com certeza você lendo nunca entenderá a dimensão que isso tinha na minha vida.

Fora TODAS as histórias de terror que as pessoas adoram contar né?

Quando engravidei em 2012 tudo isso veio à tona. O medo veio como um fantasma.

Quando sofri o aborto espontâneo em 2012 comecei a ler sobre gravidez e parto. Na verdade sempre lia sobre esses assuntos, mas resolvi me aprofundar.
E descobri muitas coisas. Me mostrou um caminho lindo que vou compartilhar com vocês a partir da próxima postagem.